REFLEXÕES QUE CURAM
O Escândalo Histórico da Castração e sua Possível Relação com o Enfraquecimento do Masculino Não-Provedor – Uma Análise Sistêmica e Epigenética da História
Por Bianca Sufi M.
A História Silenciada da Castração
1
Oriente Médio e Ásia
Homens castrados para servir nos haréns ou ocupar cargos na corte.
2
Europa
Castrati: meninos castrados entre 7 e 9 anos para preservar a voz aguda no canto lírico.
3
China e África
Práticas de castração com objetivos de controle social, submissão, estética, religião ou poder.
Há fatos aos quais a história dá pouca importância — ou, pior ainda, oferece uma leitura distorcida, destacando aspectos periféricos e silenciando os mais impactantes. É provável que você já tenha ouvido falar, nas aulas de história, em filmes, séries ou documentários, sobre os eunucos: homens que, no Oriente Médio e na Ásia, eram castrados para servir nos haréns ou ocupar cargos na corte. Ou talvez conheça os castrati, na Europa, jovens meninos castrados entre os 7 e 9 anos de idade para preservar a voz aguda no canto lírico.
Essas práticas, extremamente violentas — muitas vezes fatais — não eram exclusividade de uma região: ocorreram na China, na África, na Europa e em outros contextos. Os objetivos variavam: controle social, submissão, estética, religião ou poder. No entanto, havia uma marca comum entre todas essas práticas: a supremacia do poder sobre tudo — sobre o corpo, a linhagem, a identidade, a masculinidade, a vida. E, talvez de forma inconsciente, sobre a ignorância de um trauma profundo que, possivelmente, perpetuou-se transgeracionalmente.
O Impacto Psíquico da Castração

Trauma Psíquico
Ferida arquetípica profunda
Impacto Familiar
Reverberação na constituição familiar
Consequência Social
Desequilíbrios coletivos persistentes
Ao castrar um homem, não apenas o corpo era mutilado, mas também sua psique. Ele era desconectado de sua força vital, de sua fertilidade, do instinto e da potência criadora — sexual, artística, espiritual. O trauma não era apenas físico, mas uma ferida arquetípica profunda, que reverberava na constituição familiar e social. Essa reverberação, de forma simbólica e invisível, pode estar presente até os dias atuais.
Segundo a psicologia junguiana, eventos coletivos e repetidos ao longo da história, especialmente os violentos, imprimem-se no inconsciente coletivo. A castração literal — ou simbólica — do masculino pode ter originado arquétipos de um homem enfraquecido, passivo, despotencializado. E esses arquétipos não afetam apenas os homens. Também atingem as mulheres, que muitas vezes precisam sair de seus papéis naturais para ocupar posições de provisão e sustentação — físicas, emocionais, espirituais.
O Desequilíbrio entre Masculino e Feminino
Masculino Enfraquecido
Homem desconectado de sua potência criadora e liderança natural
Feminino Sobrecarregado
Mulher forçada a endurecer e assumir papéis de provisão
Família Desequilibrada
Lares com ausência de presença, firmeza e direção
Sociedade Fragmentada
Aumento de desequilíbrios emocionais e estruturas familiares instáveis
A imposição do papel de "provedora" à mulher, longe de enaltecer sua força, a sobrecarrega e a distancia de sua essência, que reside na criação amorosa, na sensibilidade, na intuição e na fluidez. Quando o masculino falha em sua estrutura — e isso não se refere ao indivíduo apenas, mas ao campo coletivo — o feminino é forçado a endurecer. Isso gera desequilíbrios profundos nos relacionamentos, nas famílias e na sociedade como um todo.
As Três Grandes Feridas do Masculino
Desconexão com a potência criadora
Ao ser privado de sua sexualidade, o homem é separado do instinto de criação, de transformação e de liderança natural.
Culpa e medo associados ao desejo
O desejo é reprimido, visto como perigoso, pecaminoso ou vergonhoso. Isso gera repressão e dissociação entre corpo e alma.
Fragmentação da identidade masculina
O homem não se reconhece mais como inteiro, surgindo arquétipos de passividade, submissão, servidão, e dificuldade de assumir papéis de protetor, companheiro ou líder.
A castração sistemática, praticada ao longo da história com fins políticos, estéticos, espirituais ou sociais, pode ter deixado três grandes feridas no campo sistêmico do masculino:
Essas feridas não se restringem ao universo masculino. Elas se estendem às mulheres que se relacionam com esse masculino ferido, resultando em lares com ausência de presença, firmeza e direção. Modelos familiares em que a mulher dá à luz, sustenta, educa e ainda precisa sustentar financeira e emocionalmente o parceiro tornam-se cada vez mais comuns, sobrecarregando a energia feminina e criando um ciclo de exaustão coletiva.
Consequências Contemporâneas
O resultado? Um cenário social em que masculino e feminino estão ambos feridos, desajustados em suas expressões mais autênticas. Não por acaso, vemos o aumento exponencial de doenças relacionadas aos órgãos sexuais, problemas hormonais, infertilidade e desequilíbrios emocionais – sem falar nas doenças que afetam o modelo familiar: traições, divórcios, relacionamentos cada vez mais instáveis, estruturas familiares desmoronando e gerando impactos profundos, especialmente nos filhos. A epigenética nos mostra que os traumas transgeracionais, se não curados, continuam sendo transmitidos. E a grande pergunta que fica é: que outros traumas estamos, ainda hoje, perpetuando inconscientemente em nossos filhos, netos e bisnetos?
Uma Observação Importante
Sobre a diversidade sexual e este artigo
Este artigo é fruto de uma observação empírica de meus atendimentos como Terapeuta Sistêmica e Quântica. E, por isso, é fundamental reforçar que este não é um texto sobre orientação sexual. A homossexualidade, por si só, não é consequência de traumas ou de castração. Ela é uma expressão legítima da diversidade humana.
Contexto histórico e adaptação
No entanto, em contextos históricos onde o masculino foi sistematicamente reprimido ou mutilado, é possível que certos traços de fluidez ou deslocamento de identidade tenham surgido como formas de resistência, adaptação ou sublimação psíquica.
Proposta do artigo
O que proponho aqui é um olhar arquetípico, sistêmico e simbólico sobre uma prática histórica de castração — literal e metafórica — que talvez ainda reverbere nos corpos, nas mentes e nas emoções de homens e mulheres contemporâneos.
Um Alerta e um Convite

Consciência
Reconhecer a castração simbólica atual
Amor
Cultivar relações mais amorosas
Liberdade
Permitir a expressão autêntica
E, principalmente, um alerta: a castração simbólica continua. Ela acontece toda vez que uma criança é impedida de expressar sua criatividade, é silenciada em sua curiosidade, é podada em sua espontaneidade. Cada veto, crítica, imposição, cada gesto de anulação é um ato de castração do espírito humano. Corrigir e educar é muito diferente de criticar, silenciar e podar. Que sejamos, então, mais conscientes — e mais amorosos ao educar nossas crianças.
Com carinho e respeito,
Bianca Sufi M.